terça-feira, 18 de novembro de 2008


Diante de mim



Me vi diante daquele espelho, e o sorriso já não era mais o mesmo. O objetivo da minha vida se tornou apenas cinzas. É, cinzas como rugas, o branco do cabelo e o enrugado da minha pele. Respirei fundo e tentei imaginar alguns anos que passaram, mas não me venho nada a cabeça, só um raro momento em que estava sentada em uma pracinha e uma criancinha apertou minha mão. Voltei ao espelho, e tentava esbanjar um sorriso meio amarelo, mostrando algum dente real que continuava ali. Fui abrindo meus olhos e tocando nas bochechas, era tudo igual e diferente ao mesmo tempo. Tinha medo de desviar minha atenção para baixo e ver o que eu tentava fugir por algum tempo. Resolvi espiar, porque não? Sabia que nada era como antes, mas pelo menos aquele sinal no cantinho da cintura havia de estar lá. E estava mesmo, um pouco mais claro e mais pra baixo por causa da imensas dobras que faziam sobre meu corpo, mas fiquei feliz. Uma coisa ainda restava de mim. É, um sinal. Minha vida não se resumia ao agora, não aquela imagem que refletia sobre o espelho. Aquilo era só uma sombra daquilo que o tempo faz com as pessoas, e eu era mais uma vítima dela, da tal velhice. Dei um suspiro de dois minutos beijei-me no vidro embaçado do espelho e senti alívio de ter chegado inteira, metade e nada até o fim.

Aquele era meu último momento diante de mim mesma, depois daquele dia, minhas rugas, meu cabelo grisalho e minha sombra sumiram e viraram cinzas.

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